quinta-feira, 1 de novembro de 2007
O POVO - [Artigo] Assim falava Paco
O célebre poeta português Fernando Pessoa possuía heterônimos que se constituíam três pessoas que habitavam um único ser, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos. Na crônica jornalística cearense, também temos um cidadão com seus heterônimos: Lúcio Brasileiro, personagem de Francisco Newton Quezado Cavalcante, o Paco. Tal situação lembra o belo texto que Fernanda Quinderé fez para a orelha de "Assim Falava Paco... Contos de um repórter opovoano": a qual dos heterônimos deveria amar? Indaga a atriz, escritora e amiga de Lúcio, de Paco e de ambos, através de Newton Quezado.
Presença na imprensa alencarina há mais de 50 anos, Lúcio Brasileiro dá continuidade ao estilo por ele inaugurado em seu livro anterior: "Até Agora...", editado pela Fundação Demócrito Rocha, em 2004. O autor rememora fatos sociais, políticos e até de comportamento, presentes em sua coluna diária, transportados para o livro, em forma de crônicas rápidas, que não cansam o leitor e passam a informação desejada.
São 185 páginas enfeixadas sob uma capa onde consta as fotografias do dr. Cláudio Martins e da grande dama da sociedade cearense, quiçá, brasileira, Beatriz Philomeno. Se Lúcio Brasileiro elegeu as duas personalidades da capa de seu segundo livro as mais importantes da sociedade cearense, ambos são imortais. Cláudio Martins, na Academia Cearense de Letras, onde pontificou, e Beatriz Philomeno, na elegância que a fez detentora da admiração de plêiade de cearenses, inclusive de seus confrades da Academia de Hagiologia, entre os quais me incluo.
Em "Assim Falava Paco...", Lúcio Brasileiro reúne mais de 400 crônicas, conduzindo o leitor a uma viagem, como diz Juarez Leitão no prólogo, inesquecível, por uma cidade e um povo que aprendeu a reverenciar Newton Quezado, Paco que, nas palavras do inesquecível dr. Régis Jucá, "acha que é o Lúcio Brasileiro", fazendo vir à mente a lembrança do Poeta, que "Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente".
José Luis Lira - Advogado e Professor Universitário