terça-feira, 22 de julho de 2008
Se a moda pega
Os jornais noticiaram recentemente que em Curitiba uma auxiliar de enfermagem, apresentando sinais visíveis de transtornos psicológicos, arremessou ao encontro da morte a própria filha, do sexto andar de um prédio daquela capital.
O episódio, cruel e grotesco, a par de atingir a sensibilidade dos brasileiros, remete ao tristemente célebre caso Nardoni, em que a pequena Isabela foi vitimada no alvorecer da vida, crime de que seu pai e a madrasta são acusados.
O inevitável paralelismo que se desenha entre um e outro crime convida a uma reflexão sobre a responsabilidade da mídia de massa no trato das notícias de crimes e violências. Em que medida a exploração midiática maciça e obsedante do affair Nardoni, sem qualquer respeito ao cânon constitucional da presunção de inocência e ao direito de imagem das pessoas (mesmo as acusadas dos mais bárbaros crimes), teria potencial de vulnerar espíritos mais frágeis e influir na prática de novos e mais horrendos crimes?
Ao glamourizar criminosos, vilipendiar a dignidade de acusados, submetendo-os ao deboche e à execração pública, ao servir corpos mutilados em plena hora do almoço e magnificar a sensação de insegurança, concorre a imprensa para esgarçar ainda mais os tecido social, rompendo, ao invés de fortalecer, os laços de solidariedade social.
A liberdade de imprensa, um dos princípios fundantes de qualquer democracia e direito da cidadania, não pode ser absolutizado a ponto de alforriar os órgãos de comunicação de suas responsabilidades sociais e políticas. Queremos tê-los, isto sim,como protagonistas da construção de um mundo mais justo, em que os elevados ideais de igualdade, fraternidade e liberdade sejam mais que um bordão revolucionário.
Hélio Leitão - Presidente da OAB-CE