quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O POVO - [Artigo] Conciliação para a paz

A idéia do litígio está tão arraigada na cultura da sociedade que uma simples competição esportiva, criada para a integração social, se identifica mais por uma linguagem de conflito. Os termos mais usados para vender esses eventos são choque, refrega, batalha, confronto, guerra. Isso leva as torcidas a tragédias como as que temos visto. Como consequência dessa cultura, já temos hoje os chamados "esportes radicais". É comum ouvir o comentarista esportivo, para valorizar a audiência, realçar que duas forças máximas do esporte, dois grandes adversários, os dois maiores rivais, irão proporcionar uma boa briga, um lindo duelo. Octavio Paz, prêmio Nobel de Literatura de 1990, é que dizia: "Quando uma sociedade se corrompe, a primeira coisa que gangrena é a linguagem." Nos programas policiais, vemos muitas vezes parentes das vítimas clamando por justiça, para não dizerem vingança. Pedem na excitação da revolta: "Eu só quero justiça, para que ele [o agressor] apodreça na cadeia, passe pela mesma dor que estou passando". Lembro-me de uma dessas mensagens de auto-ajuda que diz: "Ódio e rancor denotam uma alma sem elevação e sem grandeza." Não estamos dizendo que a pessoa não busque a justiça para reparar injustiças e assegurar direitos Mas todo esse caldo cultural do confronto, que se pode amenizar pelo diálogo, pelo acordo, apenas contribui para a síndrome da violência. Por isso, nada mais oportuno do que a Semana Nacional da Conciliação, idealizada pelo judiciário brasileiro, para tentar mudar a cultura do litígio e dar à Justiça o sentido de grande mediadora do diálogo, do entendimento, pela paz. Aliás, a história da justiça é a história dos grandes conciliadores. Jesus Cristo não só recomendou a conciliação, como a praticou em relação a Paulo de Tarso, o ex-perseguidor dos cristãos; a Zaqueu, o publicano usuráriio; a Pedro, o negador; a Madalena, a pecadora; a Judas, o traidor; a Dimas e a Gestas, os dois ladrões; e aos próprios romanos, ao recomendar: "Dai a César o que é de César" (Mt 22:15). Aconselhou ainda: "Reconcilia-te depressa com o teu adversário enquanto estais a caminho com ele" (Mt 5:25). E mais: "Antes de depositar tua oferenda no altar, reconcilia-te primeiro com o teu irmão" (Mt 23:24). Ele sabia do valor da conciliação para a paz. Deixou o Sermão da Montanha como o maior apelo de paz à humanidade: "Bem-aventurados os pacíficos porque serão chamados filhos de Deus." É que sem o diálogo, sem acordo, sem a conciliação, não teremos paz e seremos uma sociedade cada vez mais violência. A conciliação deve ser uma obra de educação, para que a sociedade aprenda a conjugar o verbo amar, em lugar dos mais comuns como enganar, ameaçar, agredir, matar, assaltar, sequestrar, estuprar e muitos outros que fazem parte da filologia da violência Wanderley Pereira - jornalista