É inegável o fato de que, atualmente, a sociedade dá especial audiência às tragédias, sendo esta afeição cada vez mais crescente, causa ou efeito de sermos levados a ler notícias que exprimam de logo certa desventura, mesmo que a saibamos literária. Pois bem. Se não acelerarmos o passo, toda sociedade cearense testemunhará um triste desfecho narrado em verso e prosa tratando do "apagão judicial" prestes a ocorrer. Considerando a relação direito-força, balança e espada, lecionada por Ihering, onde "a espada sem a balança é força bruta e a balança sem a espada, a impotência do direito", já constatamos a fadiga jurisdicional há um bom tempo. Desta feita, por mais que os atuais dirigentes da nobre Justiça Estadual, no Tribunal de Justiça do Ceará e no Clóvis Beviláqua, envidem esforços para aperfeiçoar os mecanismos judiciários no Estado, o que vem sendo bem feito com a louvável e crescente informatização, a dura realidade é que por mais hercúleos que sejam estes esforços, com o atual quadro de servidores estamos próximos da paralisação. De que vão adiantar modernos equipamentos, conseguidos em grandiosos esforços, se não há força humana suficiente para operá-los? Há numerosos casos de varas com apenas dois servidores, quando seriam necessários de dez a doze. E o que dizer da premência de investimentos na indispensável qualificação humana? Tal carência é justa para a Justiça e para os que dela fazem da vida um sacerdócio? Há um colapso batendo à porta da justiça cearense, deve-se admitir. É iminente. No entanto, essa ameaça poderia ser amainada pela imediata dotação de recursos para célere realização de um amplo concurso público para o preenchimento de pelo menos duas mil vagas. O enfrentamento para o concurso já há e se tem notícia de sua possível realização. A comunidade jurídica conhece este fato e o aplaude. Agora, o tempo para sua consumação é o que realmente tem preocupado advogados, magistrados, promotores e a já sofrida sociedade.
Valdetário Andrade Monteiro - Advogado e Professor de Direito Processual Civil
Jornal O Povo - 28-07-2008